Città slow: onde viver bem deixou de ser utopia

Greve in Chianti, uma das quatro cidades italianas pioneiras na proposta de viver longe da massificação e da pressa. Foto: Comune Greve in ChiantiParece não haver saída. O tempo se comprime. A velocidade imprime o ritmo da vida. Tudo é feito às pressas. Amar, conversar, olhar, comer, sempre com brevidade. O ritmo alucinado da sociedade de consumo impõe a cadência da sobrevivência. Homens. Mulheres, crianças circulam acelerados em espaços urbanos barulhentos, entupidos de gentes, umas sobre as outras, em meio à carros mil, com os olhos ofuscados pela poluição visual, que disfarça o medo, a insegurança, e estimula a adrenalina das emoções vendidas no balcão das sensações pré-fabricadas. Uns poucos espíritos, entre os menos corrompidos pelas leis do mercado, às vezes desligam o celular por um instante, por um breve instante, enquanto esquecem o concorrente, as metas, os índices, o sucesso enfim, e chegam a questionar a barafunda urbana: isso é vida?

Pois, decididamente, não. Ao menos para alguns milhares de italianos que vivem em pequenos lugares, com populações que invariavelmente não se comparam nem ao menos a um bairro de uma metrópole, seja de que país for. Eles são os moradores das cidades que integram a rede slow city, uma derivação do consolidado conceito, também surgido na Itália, do slow food, surgido em oposição ao norte-americano fast food. No total, são 54 comunidades que optaram por viver em circuitos urbanos habitáveis, levando a vida com mais calma, preservando as estruturas tradições comprometidas com o aprimoramento da qualidade de vida de seus cidadões através da valorização de sua cultura, seu ambiente, sua gastronomia. Sem, no entanto, abrir mão dos avanços tecnológicos e científicos.

Você pode conhecer esses lugares que começaram a surgir a partir de 1998. Desde que não seja aquele tipo de visitante espalhafatoso, barulhento, que não liga a mínima para regras. Conhecer algumas das cidades lentas italianas – especialmente as pioneiras Bra, Greve in Chianti, Orvieto, Positano – exige respeito às normas. Para começo de conversa, é preciso gostar de caminhar, pois estacionar carros é difícil e caro, notadamente nas áreas centrais.

Se você faz parte daquela turma que tem ojeriza à boa comida, que prefere não perder tempo à mesa, que é viciado em Mac Donald’s, pode tratar de mudar de roteiro. Nessas cidades não existem redes de fast food e muito menos grandes redes de supermercados. Assim como os moradores, você terá de fazer “o sacrifício” de apreciar a culinária local, à base de produtos da região. Isso não quer dizer que esses italianos e italianas vivem de modo ascético. Muito antes pelo contrário. Sempre haverá opções de concorridos festivais gastronômicos e/ou de muito vinho. Da terra, quase sempre orgânico. Mas ainda é possível encontrar coca cola em alguns estabelecimentos.